Blog

- Acho que com este tempo eles não vão.

Foi o que minha mulher disse ao ver que o mundo caía em forma de água na manhã do domingo, em Porto Alegre. Ela se referia à afilhada de dois aninhos e os pais, com quem tínhamos combinado de assistir o jogo do Grêmio, marcado para às 11h da manhã. Todos, claro, contando ao menos com um clima seco. Um temporal não estava nos planos de ninguém.

Nós dois, que geralmente não olhamos como está o tempo para decidir ir à Arena, imaginamos que a chuva seria um argumento bem razoável, caso a família quisesse cancelar. Mas a resposta à mensagem enviada perguntando se a programação estava de pé veio positiva, e pulamos da cama para trocar pijama pela camisa do clube. E a capa de chuva, também tricolor, claro.

Congestionamento na chegada ao estádio, carro estacionado em meio ao barro, caminhar uma barbaridade. Fila embaixo de água, revista ensopados. A esplanada abarrotada. Estávamos todos lá. A maioria se perguntando o que estava fazendo ali num dia como aquele. Ninguém triste. Cada gremista era somente expectativa.

Parei para ver o vai e vem de gente. E comprovei que o gremista não tem explicação. Já passavam das 11h, e as cenas que observei foram de emocionar. Pais chegando com filhos no colo, colocados embaixo da capa improvisada. Mães correndo com as filhas puxadas pela mão, ambas tentando se proteger da chuva e do vento. Senhoras rindo à toa, apesar das dores no joelho. “Tem de ser muito gremista mesmo”, foi o que uma falou do meu lado, no portão V, aproveitando para dar uma passadinha na capela que tem por ali. Famílias inteiras. Pais, mães, avós, avôs, netos. Amigos em bando, bebendo e vibrando.

Dentro da Arena, me deparei com a arquibancada quase lotada, e a cantoria costumeira. Crianças nos ombros, sorrisos completos. E a certeza de que quem torce para o Grêmio, torce diferente. Tem algo mais. Que faz quase 40 mil pessoas enfrentarem temporal e todas as dificuldades de acesso que a Arena oferece.

No fim, a vitória, tão importante, acabou sendo mais um detalhe. O domingo já estava perfeito. A roupa secaria, o banho confortaria. Mas a alma, lavada de tricolor, segue confirmando que o Grêmio e sua gente foram feitos um para o outro.