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Já passava da meia noite e meia quando o ônibus deixou os arredores da Arena. Aquele torcedor tinha menos de quatro horas de sono, já que precisava acordar às 5h30 para um trabalho nada leve, e ainda tinha mais um coletivo à sua espera antes de chegar em casa depois de uma longa e triste noite. Ele era simples, vocabulário curto. Xingava mais o rival e seus ícones do que aqueles que colocaram o próprio clube naquela situação. E lamentava o pouco tempo de cama que o aguardava até que o despertador, e a vida, os chamasse. Mas nem por um minuto lamentou ter ido ao jogo, ter gasto o pouco que tinha. Aliás, a certeza do sentimento e de que vai voltar assim que o orçamento permitir moravam estampados no rosto de um gremista que jamais vai se arrepender das cores pelas quais escolheu torcer.

Foi esse o torcedor que o Grêmio machucou no final da noite da quinta-feira. Como o fez durante todo o ano de uma total incompetência na gestão do futebol. Foi o torcedor comum, sócio ou não, que chorou ao término da última rodada de um Campeonato Brasileiro que todos sabiam como acabaria. Mas que, os mais idiotas otimistas como eu, insistiam em ignorar o fim.

Há muito pouco o que falar em meio à tristeza da queda. Como a perda de algo que se gosta tanto, um rebaixamento à Série B, o terceiro da história do clube, deixa o dia sem graça, a raiva quase como companheira. Tantos e tantos momentos que poderiam ter sido diferentes. A partida em que um estádio lotado, e não arquibancadas agonizando em silêncio, teria trazido os três pontos que faltaram. O clássico no qual a sorte invertida teria derrubado o rival e não a nós. Aquele gol sofrido no final, a bola que escolheu não entrar, as muitas vezes em que o futebol deixou claro que, da forma como as coisas estavam sendo conduzidas, o destino de toda uma nação tricolor seria um só. A direção que deixou tudo acontecer, os jogadores que não indignaram-se o suficiente enquanto ainda havia o que fazer.

Cenários que nos próximos meses irão com o gremista para todos os lugares. O torcedor que acorda cedo para trabalhar. Quem hoje aguenta a flauta dos rivais, quem sofre porque tem nesse time uma razão para seguir seus dias, que vive um sentimento que não se termina. Mas já estivemos aqui e saímos. Sabemos o caminho para voltar. No ano que vem, esses mesmos gremistas que agora penam estarão de novo na Arena. Estarão de novo com o Grêmio. Nós é que traremos o Grêmio de volta.