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Crônicas

13/09/2023

Vestígios do que já foram

A Bíblia Sagrada coberta de lama, um cd antigo em meio ao nada. O brinquedo, velho, arruinado. Até um barco retorcido, empilhado entre madeiras já sem qualquer serventia. Gente. Muita gente. Esperança e a completa falta dela. Vidas anônimas desencontradas e clamando por socorro. Um mar de solidariedade em meio ao caos.

Muitas imagens chegam das cidades atingidas pelas enchentes e o desastre ocorrido na última semana no Rio Grande do Sul. Lugares com perdas materiais gigantes. Cidades com dezenas de mortos. Localidades que nem existem mais depois de tanta água e lama. Famílias tentando entender o que aconteceu, e vendo como pequenos somos quando a natureza chega de repente, sem avisar. Em poucas horas, o que era já não está. Restam destroços e vestígios do que já foram.


A dor é do tamanho da perplexidade de quem enxerga. De longe e pisando no barro. A vontade de ser útil e ajudar milhares de desabrigados e sobreviventes pulsa em cada canto do estado. Doações, mantimentos, mão de obra, orações. Inquietação para que a realidade cruel enfrentada por comunidades inteiras seja amenizada, já que nada vai resolver o que sentiram, e irão sentir para sempre.


Ainda nem chegou a hora da reconstrução, que será longa. Além das estruturas físicas que precisarão ser levantadas, refeitas, reorganizadas, fica o enorme desafio de devolver às pessoas a tranquilidade de dormir em suas camas, de caminhar pelas ruas, brincar com as crianças, sem que o medo da enchente frustre ou até mesmo impeça tudo isso. Em um Rio Grande que já viveu muitos desastres, e que não se recuperou dos maiores deles, não lembro de algo que atingisse em cheio os hábitos mais comuns e simplórios do ser humano. Morar, socializar. Um mate na varanda, uma noite de sono. A casa, tão pequena e imensamente importante.


É muito cedo. Milhares estão com o pé na lama tentando varrê-la para fora das casas, longe das ruas. De volta aos rios. A ajuda não para e não irá parar de chegar. Se há algo que possa trazer o mínimo conforto para quem tanto sofre é a certeza de que ninguém está sozinho, nem o mais desafortunado dos atingidos. Que mantenhamos isso vivo. Para muito além dos primeiros dias de socorro.

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