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Crônicas

13/09/2023

A fúria que varreu a história

O jogo era Brasil e Argentina. Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho em campo. Valia troféu alusivo ao Dia da Independência, ou algo do tipo, já que foi disputado num feriado que eu só queria aproveitar jogando futebol, não assistindo. Mas as decisões na casa cabiam ao meu pai, e lá foi a família para uma cidade onde eu nunca tinha pisado. Na rivalidade, ganhamos clássico e taça, o que nunca é demais contra os vizinhos.


Era 7 de setembro de 1999 e eu só lembro dos detalhes depois de muito tempo porque meu passeio forçado teve algo que jamais esqueceria. Foi a primeira vez que cruzei uma ponte. Ponte grande, de verdade, imponente. Passar por cima de um rio. Um rio inteiro, não os córregos que pulávamos pelo interior de Farroupilha. Lá embaixo era água que não acabava mais, num Rio das Antas não muito cheio, mas já capaz de aterrorizar um garoto que sempre teve mais respeito do que medo pela água, ainda mais vinda em correnteza.


Atravessamos a Ponte de Ferro, em direção a Nova Roma do Sul. Talvez a casa dos amigos do meu pai fosse em Castro Alves, no caminho. O destino era o que menos importava, muito menos o clássico sul-americano na televisão. Passei o dia inteiro, almoço, depois tarde, só pensando no trajeto da volta, quando passaríamos novamente pela estrutura gigante que há pouco tinha conhecido. O pavor de água, inexistente quando o assunto é altura, não me furtava a imaginar subir no seu topo, parar e ficar horas olhando o rio correr, trazendo toda a vida que a natureza é capaz.


A mesma natureza que carrega fúria, e varreu da história a Ponte de Ferro nesta semana. Uma imagem que atacou em cheio a memória afetiva de cada um que a conheceu em 93 anos de existência. Turistas, ciclistas, famílias, pescadores, moradores. No dia a dia ou numa aventura. Um passeio, um pedido de casamento, um piquenique lá na beira. Lembranças que ficam para sempre, numa paisagem que nunca mais será a mesma.


A estrutura será reconstruída, talvez não mais de ferro. E nem se sabe quanto tempo levará. Que a comunidade seja atendida o mais rápido possível, enquanto todos os que se apaixonaram algum dia pela ponte aprendam a viver com a saudade de um lugar.

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