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Crônicas

29/09/2023

A vida não é na velocidade dois

Agora mesmo, me peguei pensando se havia como escrever na velocidade dois. Este surto coletivo que passou a dominar nossas ações, principalmente quando escutamos áudios ou vídeos em redes sociais. Aumentar o ritmo da fala das pessoas para que a informação venha mais rápido, apenas que acabe logo para consumirmos outro conteúdo, ainda mais apressado, e que provavelmente não daremos atenção. Movimentos e diálogos que não marcam, não gravam, não ficam.

Transportamos para todas as interações aquilo que já vínhamos fazendo no dia a dia durante anos. Pressa desenfreada que não encontra explicação, porque não nos leva a lugar algum. O tempo que julgamos sobrar depois da correria nunca chega, e seguimos reféns do próprio tempo perdido.

Que fique bem claro que eu não sou um devoto dessa seita. Não aligeiro áudios. Gosto de ouvir, também, as pausas e os silêncios do outro durante as conversas, mesmo que o excesso de cadência de certos abençoados tire um pouco a paciência.

Mas costumo dizer que é o preço que se paga por não querer acelerar o que não deve ser acelerado. A linha entre quem colocamos na velocidade dois é ultrapassada sem nos darmos conta. Antes, era o colega do trabalho que mandávamos correr com o que tinha para falar. Logo, foi um amigo pouco objetivo. Inconscientemente, e jurando ser somente naquela vez, porque estávamos ocupados, fizemos o mesmo com a mãe e, em definitivo, não respeitamos mais o ritmo natural de ninguém.

É assustador, confesso. Cada vez mais nostálgico e saudoso de um passado que foi construído com calma e assertividade, sigo percebendo as relações à minha volta. Observo gente com mais idade vivendo na velocidade que sempre andaram, e nem por isso aproveitando menos do que os jovens que invadiram o mundo com sua pressa injustificável. Eles, os ditos velhos, conversam, se esperam. Mostram um ao outro o detalhe que passou despercebido. Sentam, levantam. Respiram. E, claro, não aceleram. Em casa, vendo televisão, num estádio lotado onde, às vezes, o relógio não anda jamais. Nos ensinam que a vida não é na velocidade dois. Porque a morte, inevitável, encerra qualquer ritmo. Nosso e de quem apressamos. E a saudade dói sem pressa, só peso.

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