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Crônicas
31/01/2022
A esperança virou obstáculo
É óbvio que está todo mundo de saco cheio. E faz tempo. Quase dois anos de
uma vida deixada para depois, de um sentimento de vivermos parados, à
mercê, à espera. Passada a fase mais crítica da pandemia, combatida pela
vacinação em massa no nosso país, embalamos numa percepção e
expectativa de que em 2022 tudo ficaria para trás, e voltaríamos àquela
realidade sem máscara e pânico que respirávamos antes de tudo isso
começar.
Criamos em nós a esperança de que havíamos vencido a batalha. Cada família
com suas dores e perdas, mas também com superações e a fé de que era
preciso seguir em frente. Brindamos o ano novo a isso, e acordamos num
janeiro que marcaria a tão aguardada virada. Mas o otimismo gerado e
compartilhado por muitos parece incomodar quem instalou-se em meio às
notícias ruins e num cenário de desolação completo, e que não dá mostras de
que irá tirar suas pantufas e levantar do sofá já com a forma estampada do
dono, enquanto a vida quer continuar lá fora.
Estranhamente, a esperança virou obstáculo. Nós, os que apostamos em um
ano de retomada e volta aos sonhos e realizações, estamos quase nos
escondendo da fúria de alguns que preferem as lamúrias, o descontentamento,
a permanência em um estado de letargia que ajuda ninguém, muito pelo
contrário. Do nada, querer ver mais sorrisos do que desespero virou um ultraje,
quase uma desumanidade.
Está bem claro para todo mundo que há, ainda, a necessidade de cuidados
com a transmissão do coronavírus. Que a nova variante ômicron está varrendo
o Brasil e, por isso, as precauções estão longe de acabar. Mas justamente o seu
alto grau de contágio, somada com a baixa letalidade, essa também
proporcionada pelas vacinas, pode nos tirar do fundo de um poço de onde
precisamos definitivamente sair.
Nossa sanidade depende disso. Da esperança, de novas metas, novos futuros.
Um presente vivido como merecemos. Com todas as alegrias e inevitáveis
infortúnios que completam a vida. Para isso, peço encarecidamente que nos
deixem acreditar que saímos dessa, pessimistas. Ainda iremos nos cuidar, mas
seguiremos vivendo.
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