Blog

Crônicas

22/07/2022

O estupro ao que há de mais humano

A sala do parto. A hora do parto. O trabalho de parto. Desde o começo da raça humana, o homem inveja o que somente a mulher pode vivenciar. Não falo da dor, do esforço, do sacrifício muito além do que qualquer um de nós poderia suportar, levado com força e coragem por por elas. Mas, talvez, até isso invejamos. Contudo, me atenho ao ato de gerar uma vida. A concepção do início ao fim.

O poder feminino de trazer ao mundo alguém do nosso sangue. Passamos nossa existência tentando fazer de tudo para chegar perto do protagonismo que a mulher vive no parto.

O momento mais sublime de uma família. Onde homem algum, jamais, será protagonista. Mas, graças ao caráter podre, a violência esdrúxula e, não sei, quem sabe a certeza da falta de impunidade, é capaz de tornar-se o pior vilão em uma cena onde só deveria existir esplendor.

O médico anestesista que estuprou uma paciente durante um parto no Rio de Janeiro atacou cada mulher que já esteve entregue à vulnerabilidade de um leito de hospital para encerrar seu ciclo gestacional. Todas se viram ali, em solidariedade à vítima. E, pelo que sugere a investigação, não pela primeira vez. Como o pior dos vermes, que utiliza-se de posição do poder da função para prejudicar outro ser humano, marcou da pior forma possível uma mãe no momento único do encontro com seu filho, quando todas as dores e incertezas de uma gravidez ficam para trás e tudo vale a pena. O montante que, como homens, tanto invejamos. Um ataque por doença, psicopatia, por julgar que podia fazer o que queria sem ser punido.

Eu torço para que nenhum outro de nós, homens, consideremos normal um absurdo surreal desses. E, caso alguém não entenda o tamanho do escárnio, coloque o pronome ‘sua’ antes de mulher, mãe ou filha, e entenda onde fomos parar.

Não há mais o mínimo espaço para violência como essa. Para qualquer outra. Não há mais como pensar que uma mulher possa ficar sujeita a um criminoso desta forma, que por estar anestesiada vire um objeto, que um ser como esse não apodreça a vida toda atrás das grades.

O mundo que uma mãe merece é outro. De respeito. De segurança. Em casa, na rua, num hospital. Na sala do parto. Na hora do parto. No trabalho de parto.

Crônicas

29/09/2023

A vida não é na velocidade dois

Saiba mais

Crônicas

13/09/2023

Vestígios do que já foram

Saiba mais

Crônicas

13/09/2023

A fúria que varreu a história

Saiba mais