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Glória Maria era repórter. Repórter. Insisto porque é preciso pontuar sua principal força, que agora já pode ser tratado como seu maior legado. Sem nenhuma depreciação ao posto de jornalista, que também carregou, mas para ser repórter é preciso se interessar por gente, por povos, pelo imediato, o novo, o desconhecido. O que ninguém mais acha. Arriscar, tirar palavras de onde os outros só enxergam ação. E Glória Maria, que despediu-se antes da hora, mas já tendo deixado tudo, fazia exatamente isso. E querendo a próxima, como a grande repórter que era.

A Glória que ensinou jornalismo a um país inteiro, aprendendo sem nem dar-se conta. O tamanho que tinha fez extrapolar o público de suas aulas para muito além de reais acadêmicos que, como eu, tiraram o diploma inspirados nela. Nunca saberei se tinha tal ousadia, mas bastava qualquer desavisado esbarrar com Glória de microfone à mão na televisão que tanta amou, falando de um país remoto ou testemunhando um registro histórico, numa entrevista com um astro mundial, com a naturalidade de um sábado no parque, que mais uma lição sobre a profissão estava dada.

E o que garantia o cargo de maestra sem nem desejar tê-lo era a paixão com que fazia aquilo. Coisa de outra categoria, outro patamar. Coisa de Glória Maria. Mostrou aos brasileiros onde uma alma obstinada e criativa pode chegar. Tudo que um coração livre pode alcançar.

Glória Maria não inspirou apenas mulheres, negros, jornalistas, humildes. Tudo o que a classificava não era suficiente. Glória inspirou todos nós porque ignorou rótulos e limites. Nunca abriu mão de bater no peito e dizer a que vinha. Nem imagino as portas e preconceitos que precisou surrar para que caíssem. Porque Glória não era mulher de esperar que se abrissem por obra do destino. Atrevida e gigante, inventou o seu.

Não é o jornalismo que agradece e aplaude, Glória. O Brasil faz isso. Nós, as pessoas que você tanto adorava e reportava, derramam as pesadas e necessárias lágrimas da despedida. Até a próxima aula!