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Crônicas
02/12/2021
A gente sorri entre livros
Caso você que me lê andou por Marte nas últimas semanas, não leu o jornal e não passou pelas minhas redes sociais, talvez não esteja sabendo que eu tive a audácia de lançar mais um livro. Foi o meu terceiro, e ele já sabe que não será o último. Gostei da brincadeira. Uma cachaça, disse um ex-professor meu que reencontrei em uma das sessões de autógrafo que ando realizando. Quando começa, me confessou ele que já tem cinco publicados, não para mais.
Mas, embora toda hora seja conveniente para falar do Era crônica que me faltava, porque preciso vender o máximo possível de exemplares, eu não vim aqui para falar da nova obra. O que eu quero dividir contigo é o que tem acontecido nos eventos que realizo para que o público esteja presente, carregue livros para casa e faça o autor muito feliz. Foram quatro até aqui. Farroupilha, Carlos Barbosa, Porto Alegre e, por último, Caxias do Sul. Gente que deixou de lado rotinas e compromissos. Levou junto família ou correu para me dar um abraço e voltou logo para jantar em casa. Amigos que há tanto não via. Todos nós malditos reféns da pandemia e sua malfadada distância imposta.
Cada um dos momentos que ousei criar me deixaram uma grande certeza: vale a pena. Sempre vale. Como eu arrisco pensar que você nunca organizou o lançamento de um livro, eu vou explicar rapidinho como é. Escolha do lugar, contato com proprietários, contrata fotógrafo, som, música, filmagem, busca parceiros, faz lista de convidados, contata imprensa, vende o peixe, produz materiais com a gráfica, convoca amigos e familiares, lida com a desconfiança de quem não te conhece, arranja troco no banco para facilitar a compra, e arranja alguém para vender. Imprime lista de controle, carrega caixas, banners, pedestais. Compra caneta, marcadores, separa produtos.
Marca visitas para entregar convites, vai e volta entre as cidades organizando o próximo enquanto nem realizou o primeiro. Reforça com a imprensa, com os convidados. Alimenta a rede social. Fotos, entrevistas. Vive o risco eterno de ir gente suficiente, se os amigos vão cumprir a promessa de comparecerem. Uma dedicatória diferente para cada pessoa, um bate-papo diferente em cada local. E, claro, vender livros. Para, no fim da noite, jantar sozinho um lanche qualquer com sorriso incansável no rosto ao ver que, de novo, deu tudo certo. Tudo isso em cada um dos lançamentos.
Cansativo? Angustiante? Correria sem fim? Absolutamente, sim. Mas o que vira uma moleza quando, da minha mesa de autógrafos, entre um abraço e outro, posando um riso largo e dividido com quem me afaga, eu me deparo com o sorriso do reencontro nas mesas. Amigos que parecem esperar os meus livros para sentarem juntos e beber a cerveja que um dia foi diária. Relembrar histórias, contar piadas. A grande maioria eu nem escuto, mas fico imaginando e me deliciando com aquilo que eu proporcionei. A vida dividida, a esperança repetida, a expectativa realizada.
Eu não lanço livros somente para que sejam lidos. Eu coloco cada filho no mundo quase com um pretexto para ver o espetáculo do reencontro acontecer. Ontem, a mãe de um amigo, que agora é minha amiga também, despediu-se dizendo: até o próximo lançamento. Afinal, nos vemos sempre de dois em dois anos desde que o primeiro surgiu. Mal sabe ela que terá de me ver antes disso. Porque, como lembrou meu ex-professor, publicar é uma cachaça, que eu troco por cerveja. No bar, com dedicatórias e alegrias. Com cada um que me deixa ser o escritor mais feliz desse mundo.
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