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Crônicas

05/01/2022

A noite que tanto esperamos

Das coisas mais incríveis do Natal, me arrebata a facilidade que a data tem de nos transformar em crianças como que num passe de mágica. O adulto ranzinza e preocupado dos outros dias amanhece sem chance alguma já na véspera, quando a expectativa pela noite de Natal acorda do nosso lado da cama. O sorriso que colocamos no rosto é de quem só tem sonhos e alegrias na vida, ignorando problemas e boletos sem fim que nos esperam lá fora.

A volta à infância tem uma grande culpada. A noite de Natal cria em nós um sentimento que somente as crianças carregam, e que, infelizmente, perdemos à medida que acreditamos mais na dureza e responsabilidades da rotina do que nas barbas do Papai Noel. Da hora em que despertamos até as luzes iluminando a árvore, inventamos em nós a espera. A sensação de que algo fantástico está por vir, e que nós estaremos lá para ver.

Esperamos pela comida, pelas vozes se misturando. Pelas risadas mais compridas e menos pesadas. O irmão que não consegue vir sempre, o cachorro enlouquecido com tantas pernas para desviar. Esperamos pela lembrança de quem nunca nos esquece, o cuidado com aquele prato que todos xingam, mas quase todos devoram.

Um panetone jogado no canto da mesa, os chocolates que não sobram para contar história. Os biscoitos decorados que dão pena de comer. Até debulhar o primeiro, com a pena engolida junto sem culpa alguma. Os abraços, os motivos, as conversas. Mesmo a roupa nova guardada para usar na sala de casa faz a espera crescer enquanto os minutos passam.

Iremos encontrar o que sempre esperamos. Podemos até dizer que é tudo igual, todos os anos. Que é só protocolo e, na verdade, é chato. Esse é o nosso adulto falando. A criança que acordou conosco na véspera não vê a hora de chegar tudo isso. Porque ela sabe reinventar momentos como ninguém. Renova, revive. Se está chato, faz diferente, procura, tenta. Erra e acerta até que fique da forma como imaginou. Como deveríamos fazer com a vida, como precisamos fazer a nossa noite de Natal.

Daqui até as luzes se acenderem, deixemos a criança dentro de nós viver esse dia. Ela entende muito mais de sonhos do que nós. É ela que acredita nas barbas do Papai Noel.

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