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Crônicas

15/10/2021

QUANDO ME TORNEI GENTE (feliz dia, professores)

Embora sempre tenha os testado e fingido que não gostasse deles, eu jamais deixei de respeitar os limites. De tudo. O que não quer dizer que não os tenha ultrapassado, quando julguei que não eram suficientes para mim. Respeitar é saber que existem, como uma régua estabelecida. Contudo, se não atrapalha os outros, não há motivos para não ir muito além daquilo. Mas quando uma segunda ou terceira pessoa pode ser prejudicada por não entendermos o limite, é nossa obrigação acatar. E foi aí que eu me tornei gente.

Eu sou um testador contumaz dos limites. Desde muito pequeno. Desde quando eu nem sabia que era. De todos eles. Em casa, na rua, nos sentimentos, na vida real. Perceber até onde se pode ir e se há possibilidade de avançar é meu esporte favorito, muito mais do que o futebol que consome minha paciência. Cutucar, arriscar, insistir, recuar para depois arrematar. Verbos que flertam com o limite tornaram-se meu vocabulário predileto.

Óbvio que, se o mundo acatasse todas as minhas vontades, eu seria insuportável, e provavelmente já não estaria mais vivendo em liberdade. E foi aí que eu me tornei gente.

Dentro da escola, graças a uma figura, com vários rostos e nomes. O limite que eu mais testei. Quem me ensinou a ser gente. Não que meus pais tenham delegado a eles a missão de criar caráter e personalidade do menino arredio. Ambos cumpriram muito bem o papel que lhes foi entregue de educar o filho. Mas foram as professoras e os professores foram os que me ensinaram a ser gente, a respeitar os limites. Deixá-los para trás quando a alma grita, obedecê-lo quando as regras falam mais alto.

Eles nunca souberam, por isso escancaro agora. Eu só era feliz naquele espaço quando ouvia os nãos que sabia que merecia. Batia o pé, amarrava a cara, mas gostava que me mostrassem que eu não era diferente dos demais, e precisava seguir as normas. Aquilo me confortava. O não me mostrava cuidado, proteção e, calado comigo mesmo, eu sorria. Ao mesmo passo que me frustrava quando a professora cedia aos meus apelos, porque sabia que não merecia. Porque, no fundo, eu não queria que ela cedesse.

Foi essa mistura de momentos, o turbilhão de sentimentos que tais enfrentamos geravam que me tornaram o humano que sou. E é tudo culpa do professor. Obrigado pelos nãos, pelos limites. Por mostrarem o meu lugar no mundo. Seja ele qual for. Por me tornarem gente.

Crônicas

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