Blog

Crônicas

14/04/2022

Uma promessa cumprida

Foi respondendo a primeira mensagem de feliz aniversário que eu me dei conta de tudo que aconteceu até aqui. Depois de tudo que a vida entregou nas minhas mãos e disse: ‘te vira, eu faço como eu quero e tu que dê jeito de não jogar em mim a culpa pelos teus fracassos, e nem me dar créditos por conquistas que foram só tuas.

Ainda escolhendo palavras para mandar ao meu amigo, vi tudo que alcancei, todos que chegaram e, principalmente, ficaram. E, em meio a mais um 11 de abril, esse dia que eu espero com tanta expectativa nos outros 364 do calendário, percebi que havia cumprido uma promessa feita muitos anos atrás. A alguém que não estaria lá para me ver cumpri-la ou, se tudo desse errado, desistir dela.

Eu tinha 15 anos recém completos em outro 11 de abril especialmente feliz quando precisei prometer uma coisa ao meu pai. No entra e sai infinito de pessoas em um velório tão triste quanto concorrido, eu vi que o pai fantástico que eu tinha era também um amigo fora do comum. Os defeitos tantos que tinha nem de longe foram capazes de vencer a alma e o caráter daquele cara.

Lágrimas, inconformismos e relatos breves de capítulos daquela história que encerrava abruptamente aos olhos de quem chegava me deram duas certezas. A primeira que eu queria ser igual a ele. Estar presente quando os meus precisassem, e fazer a diferença em quem pouco sabe de mim. A segunda que, partir dali, eu não tinha o direito de fazer menos do que o homem que, mesmo com tão pouco tempo, já havia ensinado todos os caminhos para que eu pudesse segui-lo.

Deus sabe o quanto eu errei em tentar cumprir. Ao começar por esquecer por muito tempo do compromisso. Fui vivendo, tentando honrar valores e lembrando conselhos. Imaginando o que meu pai faria nesta ou naquela situação. Se pediria desculpas pelo erro que afastou ou deixaria cada um ir na estrada que lhe cabe. Se faria mais, se abriria mão de si mesmo pelo outro. Tanta e tantas vezes os outros. Chorei incontáveis noites por não poder perguntar se o ‘não’ pesava nele como pesava em mim. Mas jamais abrindo mão do que ficou marcado no meu peito. Erros são cometidos a todo momento, a diferença é a intenção de cometê-los e o que se faz com o mesmo erro nas mãos depois que aconteceu.

Assim, falhando todos os dias, mas tentando com todas as forças não prejudicar ninguém e fazendo esforço ainda maior para enterrar o orgulho quando entendia que só dependia de mim retomar, uma promessa era cumprida, e uma vida com os melhores ao meu lado era escrita.

Na resposta ao meu amigo, agradeci pela lembrança. Mas devia mesmo ter agradecido por me fazer entender que conseguimos. Eu e meu pai. Dois corações imperfeitos e falhos, mas que dormem todas as noites com a consciência em paz de quem só quer fazer o bem, abraçados pelos amigos que ele traz.

Crônicas

29/09/2023

A vida não é na velocidade dois

Saiba mais

Crônicas

13/09/2023

Vestígios do que já foram

Saiba mais

Crônicas

13/09/2023

A fúria que varreu a história

Saiba mais