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Crônicas

09/02/2022

Corações juntos na fé

É engraçado o tanto que a fé rege a nossa vida. Nossas ações, os planos que fizemos e os projetos que realizamos baseados todos nela. Esse sentimento de agarrar-se a algo que nunca nos mostra que cor ou rosto tem. Mas que nos guia dia sim e todos os outros também. O sentimento de crer que algo melhor está reservado, que vai vir o que esperamos ou pedimos.

A fé, individual e de cada um, tem esse poder de levar a pessoa adiante, mesmo que todo o entorno indique o contrário. Até nos momentos em que desistir soa como o mais razoável ela, de novo, sustenta coração e corpo e seguimos.

Mas há um tipo de fé que tem ainda maior força. Assim como você, eu também nunca conversei com Deus. Ou melhor, converso todos os dias, mas o abençoado jamais respondeu com a voz rouca e pesada que eu imagino que tenha. Mas, apesar de não ter a sorte de ouvi-lo, tenho a convicção de que Ele escuta mais alto quando o verbo acreditar é conjugado no coletivo.

Nesta semana, a minha cidade, Farroupilha, celebrou mais uma edição da Romaria Votiva. Já são 122 anos que os fiéis de Nossa Senhora de Caravaggio reúnem-se para agradecer e, principalmente, pedir por chuva. Conta a história que a primeira Romaria surgiu também em um ano em que a estiagem castigava os colonos. Já eram quase seis meses sem um pingo sequer quando, em 2 de fevereiro de 1899, realizou-se uma procissão para implorar pela chuva. Agricultores de várias comunidades vizinhas se dirigiram à Caravaggio a pé em uma caminhada de muita oração e sacrifícios, suplicar a intercessão de alguém lá de cima.

E a força da fé daqueles muitos devotos fez com que Nossa Senhora, depois de um acordo com São Pedro, descesse água na região, salvando a safra à época. Agora, mais de século depois do pedido atendido, outro gêmeo foi renovado, na esperança de que a seca que assola muitos produtores e prejudica quem faz da terra o seu sustento e nosso alimento tenha fim.

Enquanto escrevia essa crônica, tentei fazer silêncio para ver se Deus falava comigo para me dizer que eu estou certo. Que quando muitos corações rezam juntos pelo mesmo motivo, a atenção dEle é maior. Mas o abençoado não me deu a graça de um animado bate-papo. E nem precisa. A resposta, há 122 anos, foi em forma de chuva. A mesma que irremediavelmente cairá. Porque a fé existe não para que vivamos de ilusão, e sim de certeza. O abençoado e Nossa Senhora não resistem a um pedido feito por corações que unem-se. Por corações que vivem de fé.


Foto: Gabriel Marchetto / Rádio Spaço FM

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