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Crônicas

13/12/2021

O silêncio que não escutamos (em homenagem a Guilherme dos Santos Garcia)

Ele tinha 19 anos. Eu fico imaginando quantos pensamentos passam pelas ilusões de um jovem de 19 anos. Eu já estive lá, e lembro que eram tantas as confusões que espreitavam a minha cabeça quando foi a minha vez de encarar os dias sem fazer ideia do que me esperava ali na frente, que me questiono em que momento da vida nós começamos a ignorar o quão difícil é atravessar essa fase.

Não foram poucas as vezes em que eu pensei que não aguentava mais, que pouco ou nada fazia sentido. Que aquele mundo que simplesmente não notava minha presença, que tarde após tarde não se importava comigo, sentiria qualquer falta se eu decidisse ir embora de uma hora para outra.

Eu tinha muita coisa por falar, queria que ouvissem minhas ideias, respondessem minhas perguntas. Me mostrassem onde era o longe que diziam que eu iria, qual era o futuro que falavam que eu tinha. Ao invés de apontamentos e caminhos, atenção e ouvidos, eu recebia rostos virados, rotinas corridas. Adultos apostando que eu daria um jeito sozinho. Outros jovens tão perdidos como eu, e um abismo entre todos.

Por sorte, os livros que sempre me acompanharam me impediram de fazer várias besteiras. Eu encontrava naquelas páginas os exemplos de que a vida pode continuar, não importa o que aconteça. Alguém já havia sofrido o que eu agonizava e seguido. Logo, eu também podia fazê-lo. Por mais sorte ainda, as palavras me escolheram como forma de virem ao mundo. Quando realidade e ilusões pesavam, eram elas a me sustentar aqui.

O garoto de 19 anos talvez não teve as mesmas sortes. Talvez, dividiu comigo somente as angústias e medos que nos abraçam em uma época que ainda não aprendemos a deixá-los de lado. Ele precisou tomar a decisão mais difícil da própria vida. Uma que certamente seria outra se tivéssemos escutado o que gritava em silêncio aquele coração. Mesmo com quem nos ama estando ali, muitas das vezes fazendo tudo o que está ao alcance. Nem sempre se trata disso, e certamente não há culpa a ser carregada por quem já tem o peito despedaçado. Essa mesma decisão que eu escolhi diferente na minha vez. Sem ideia do que viria, mas um ou dois ombros a estarem lá sempre que gritei quieto: eu estou aqui, tenho sonhos e vontades, e vocês vão me ouvir. E em muitos momentos, o ombro não morava na minha casa.

Perdemos o garoto. Perdemos o seu sorriso, os seus sonhos. Ficamos com a dor da despedida, e com a lembrança que há muitos outros gritando o mesmo silêncio em todos os cantos. Nós precisamos ouvi-los.

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